COLUNA ALTERNATIVA : "OS GUARDIÕES, O CÍRCULO VICIOSO E A FRONTEIRA" por Edson Santana (PARTE III)

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PARTE I
PARTE II

"A segunda estrofe, exceto a substituição do objeto a ser atirado e por onde será atirado, possui a mesma estrutura: o eu-lírico atira a tv pela janela depois de tê-la ouvido dizer. E o que ela diz, tanto na primeira estrofe quanto na segunda, são aberrações contraditórias: “Quando não houver mais amanhã /Será um belo dia” (versos 3 e 4) e “Quando não houver mais ninguém/Será um belo dia” (versos 17 e 18). A presença das aspas, abrindo e fechando os versos, não permite outras leituras que não contemplem a atribuição das falas ao aparelho televisor e a ironia com a qual o sujeito-lírico as trata, motivo da ira do eu-lírico, o depois, lógico, pressuposto pelo antes (que pode ser confirmado pelos versos 5 e 6, 19 e 20 – Estranha coisa pra se dizer/Antes de dizer os números da loteria e Estranha coisa se dizer/Antes de vender mais mercadoria, respectivamente).

A presença do verbo atirar em duas estrofes é significativa, pois, em se tratando da programação televisiva, é possível que constatemos, em todas as épocas e estações, veiculação em excesso de filmes de guerra, de faroeste e de bang-bang de um modo geral, sempre com o mesmo enredo, a marcar uma esteriotipação e uma mecanização das ações. Endossando nossa afirmação, podemos indicar, ainda, a presença das rimas e das aliterações em todo o corpo do texto.

As rimas em avalanche, às quais nos referimos parágrafos atrás, juntamente com a constante presença das consoantes linguodentais plosivas, d e t, que ainda não haviam sido mencionadas, entram em consonância mimética com os sons produzidos pelas armas de fogo tanto utilizadas em guerras e tiroteios e este não é um recurso incomum na obra de Gessinger, conforme se pode confirmar em Sá (1998) ao analisar o texto nau à deriva. Além do efeito sonoro conseguido pelas rimas e pelas aliterações, outros elementos relevantes para confirmação da mímesis televisiva são as elisões muito comuns dentro de todos os versos e os encadeamentos freqüentes entre eles, o que aproxima a linguagem do poema da linguagem dos filmes de ação pela velocidade que impõem ao texto.

Atentemo-nos agora para o seguinte fato: as estrofes, embora seus interiores sejam totalmente irregulares, são exteriormente iguais. Isso nos dá margem para dizer que o poema é só aparentemente dividido em três partes: em nossa leitura, ele possui apenas duas. E se estamos falando em tv, podemos dizer que as duas primeiras estrofes comportam-se como ensaios, uma preparação para a última; e essa, diferentemente daquelas, é aberta por reticências que marcam a interferência de certa subjetividade quando tudo é muito mecânico (os ensaios, os tiros, os sons explosivos e a velocidade excessiva). Nessa estância, o indivíduo-lírico torna-se sujeito do verbo resolver, mas ele não resolve qualquer coisa. Resolve jogar e entra em cena, novamente, a tv, pois o verbo jogar participa do campo léxico da diversão, do entretenimento.

Se, como o próprio poeta disse algum tempo depois, uma mentira é repetida até virar verdade, então, o sujeito-lírico, submerso nos entretenimentos fúteis, com a pequena esperança de ganhar na loteria, também joga – e esse é o ponto em que ocorre uma das três únicas cisões nos enjambements em todo o texto –, mas ele não joga qualquer coisa. Por se ver sem escolha e obrigado a ser livre, joga as cartas na mesa e não assume as conseqüências de seus atos, atribuindo sua condição de liberdade a Jean-Paul Sartre, filósofo existencialista; se alguém tem que ser responsabilizado é o pensador francês, pela obra que escreveu – se não é possível ser livre, a culpa é do autor de O Ser e o Nada que diz que sim (Não sou eu o mentiroso,/Foi Sartre quem escreveu o livro – versos 35 e 36).

Mas Sartre, apesar de subversivo, não instiga à violência. Se o Existencialismo é realmente um Humanismo, o que justificaria o fim da paciência e a declaração, por parte do eu-lírico, de certa propensão à violência? Nada. Não há, no poema, violência contra o ser vivo algum. O que há é uma irritação por não haver saída, por não haver fuga, que é canalizada em objetos. Só os objetos são atirados ou jogados. Em suma, o eu lírico se opõe à sua objetivação por parte da tv e assume a posição de sujeito de suas atitudes.

Há, ainda, a já aludida oposição eu x eles x nós. Em tal oposição, eles são sempre sujeitos de enunciados e detentores de aparelhos que não são os televisores, mas, os televisivos. E os filmes, jogos esportivos e de azar, em resumo, todos os aparelhos midiáticos, funcionam como guardas de uma fronteira fugidia e nos impedem de fazer qualquer coisa, como pode ser constatado em E nós não fazemos nada, nada, nada"(Continua...).

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*Postado por Bruno P. Rodriguês/Equipe OCT e Pleyades

Comentários

Roberto A disse…
Eu sei quem é o cara da foto Bru! Rs. Mas não vou falar, fique relax!! parabéns Edson por mais texto relevante e interessante. Adiante!
Anônimo disse…
Eu vou falar... :P
é o jim lindo gatão morrison...

E quero meu prêmio... hohoho

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