"A ESCRAVIDAO NOSSA DO DIA-A-DIA" por João Santana (Mão-Dupla)
(O xamã e o xamanismo/imagem - www.portaleoni.com.br/xamanismo.htm)
Desde que Terra é Terra, tudo quanto é vivente esperneia para sobreviver: vegetais se contorcem, criam cascas e amarelam-se tentando sobreviver à seca; moscas e mosquitos sugam sangue, desviam-se de tapas e rabanadas, mas, caem na língua e no estomago das rãs, que, depois de nadaram nas profundezas dos lagos, caem no estomago dos peixes grandes; e estes, nadam até caírem nas esparrelas dos humanos; os humanos, como todos os outros na natureza que também tem um ciclo, suga a Terra, mas, no final é também tragado por ela, engolido e triturado por ela. A mesma mãe que nutre seus viventes, é também nutrida por eles: dinâmica cósmica, dialética da vida, ciclo existencial, metáfora da eternidade.
Uma sutil diferença nos humanos em relação aos outros viventes na natureza, é que além de explorarem o meio, incluindo aí todas as formas de existir (animal, vegetal e mineral), submete os seus semelhantes ao seu julgo, às suas vontades e às suas ordens. Então, durante a vida, fazem de tudo para alimentar dois grandes impérios diante de si: o império material que constroem fora de si, e o império dos vermes e parasitas que carregam em suas barrigas, desencadeando outros “sub-impérios...”
Parece doidêra, mas, boa parcela dos humanos que compõem este planeta, realizam seus trabalhos mais ou menos no formato de escravidão: os jovens estudam para depois ocuparem as melhores profissões, ou servir melhor seus chefes. E assim a vida vai passando, os dias vão seguindo, e, essa corda bamba continua. Qualquer mau-humor dos patrões, o troço despenca. E então, o desespero começa. Além da já dependência das decisões dos nossos superiores do poder político, uma grande maioria é dependente das decisões de seus patrões; as conversas de empregados quase sempre giram em torno de seus trabalhos, ficam falando de seus chefes, de suas raivas, de seus modos, etc. Uns ficam se gabando por estarem nas melhores posições ou por trabalharem na empresa do senhor fulano de tal; outros ficam a gabar por receber a confiança de suas esposas e filhos, e, assim por diante...
Que contradição é a vida! O que fazer, diante dessa armadilha do trabalho alheio? Como agir? Qual será nosso caminho? Que palavras devemos utilizar para acessarmos as pistas da saída? O que dizer? O que pensar? Adianta saber uma montoeira de coisas sobre o passado da humanidade? Tem muita gente que sabe muitas coisas, mas, de repente, não sabem nada de si mesmos.
Estamos mais interessados em nossas próprias histórias e em nossos próprios acontecimentos, do que das histórias e acontecimentos alheios.
Ser empregado de alguém, ainda nos tempos de hoje, é aceitar passivamente a renúncia de si. O que se acaba abrindo mão pelo salário, vai além da produção: é aquela roupa em que se sente bem; o uso desejado do cabelo; o tempo, do qual já não é mais dono; os hábitos, que se confundem; a expressão que também se emudeceu. Enfim, tantas outras coisas, que a própria consciência inclui-se voluntariamente.
Vejamos nossa própria fotografia: a gente estuda, pega canudo, estuda mais e pega mais canudo. Parece que tudo é uma montagem, um truque, um disfarce para servirmos melhor nossos superiores. Assim, as escolas instruem os alunos para serem obedientes, fechados, isolados, submissos e a agradar os que possuem as rédeas do poder legitimado. E a coisa continua do mesmo jeito, desde que o mundo é mundo. É uma novela de se desconfiar: no final, todo mundo acaba atrelado, amarrado e dependente de tudo que vem dos outros e nunca de si próprio.
Se a gente ficar tentando separar a atividade do corpo e a do cérebro, ou, submeter o poderio de um em relação ao outro, poderemos correr o risco de cair num abismo. Desde que mundo é mundo, a maioria absoluta de humanos ocupantes da Terra sempre foi pobre. Olhando com a lente destes, parece óbvio afirmar que as necessidades materiais (das quais é imbuído o pobre) determina a consciência (o pensamento, a reflexão, etc) e faz com o pobre seja cada vez mais pobre. Porém, é igualmente óbvio que desde que homem é homem, os gênios nos mostram o contrário: a consciência (ou o pensamento, as idéias, etc) é que manda no corpo, dita as ações, e faz o gênio ser cada vez mais gênio. Acontece que, como os extremos estão em toda parte, o pobre descuida em demasia da consciência (e das idéias), e o gênio (artista ou inventor) acaba esquecendo que tem um corpo.
Os desconfiados não gostam de se rotular, pois, temem correr o risco de não poder desfrutar das outras possibilidades. Há cientistas corajosos o bastante para afirmar que a consciência é que conduz o corpo, outros acreditam que o corpo é que determina a consciência. Ora, a vontade de viver, leva o corpo a desejar conhecer. E, o desejo , por sua vez, conduz a consciência ao pensamento e à reflexão. Assim, o que existe é uma inter-relação, inter-necessidade ou relação íntima entre a consciência e o corpo, o desejo e a reflexão.
Não somos mais do que seres de passagem. No final, tudo volta ser essa massa única: triturado pela terra, pela água, pelo fogo e pelo vento. No fim, tudo volta e continua sempre essa massa cósmica, existência mutante e eterna.
(João Santana – filósofo, artista-educador – www.institutomaodupla.com.br)
Desde que Terra é Terra, tudo quanto é vivente esperneia para sobreviver: vegetais se contorcem, criam cascas e amarelam-se tentando sobreviver à seca; moscas e mosquitos sugam sangue, desviam-se de tapas e rabanadas, mas, caem na língua e no estomago das rãs, que, depois de nadaram nas profundezas dos lagos, caem no estomago dos peixes grandes; e estes, nadam até caírem nas esparrelas dos humanos; os humanos, como todos os outros na natureza que também tem um ciclo, suga a Terra, mas, no final é também tragado por ela, engolido e triturado por ela. A mesma mãe que nutre seus viventes, é também nutrida por eles: dinâmica cósmica, dialética da vida, ciclo existencial, metáfora da eternidade.
Uma sutil diferença nos humanos em relação aos outros viventes na natureza, é que além de explorarem o meio, incluindo aí todas as formas de existir (animal, vegetal e mineral), submete os seus semelhantes ao seu julgo, às suas vontades e às suas ordens. Então, durante a vida, fazem de tudo para alimentar dois grandes impérios diante de si: o império material que constroem fora de si, e o império dos vermes e parasitas que carregam em suas barrigas, desencadeando outros “sub-impérios...”
Parece doidêra, mas, boa parcela dos humanos que compõem este planeta, realizam seus trabalhos mais ou menos no formato de escravidão: os jovens estudam para depois ocuparem as melhores profissões, ou servir melhor seus chefes. E assim a vida vai passando, os dias vão seguindo, e, essa corda bamba continua. Qualquer mau-humor dos patrões, o troço despenca. E então, o desespero começa. Além da já dependência das decisões dos nossos superiores do poder político, uma grande maioria é dependente das decisões de seus patrões; as conversas de empregados quase sempre giram em torno de seus trabalhos, ficam falando de seus chefes, de suas raivas, de seus modos, etc. Uns ficam se gabando por estarem nas melhores posições ou por trabalharem na empresa do senhor fulano de tal; outros ficam a gabar por receber a confiança de suas esposas e filhos, e, assim por diante...
Que contradição é a vida! O que fazer, diante dessa armadilha do trabalho alheio? Como agir? Qual será nosso caminho? Que palavras devemos utilizar para acessarmos as pistas da saída? O que dizer? O que pensar? Adianta saber uma montoeira de coisas sobre o passado da humanidade? Tem muita gente que sabe muitas coisas, mas, de repente, não sabem nada de si mesmos.
Estamos mais interessados em nossas próprias histórias e em nossos próprios acontecimentos, do que das histórias e acontecimentos alheios.
Ser empregado de alguém, ainda nos tempos de hoje, é aceitar passivamente a renúncia de si. O que se acaba abrindo mão pelo salário, vai além da produção: é aquela roupa em que se sente bem; o uso desejado do cabelo; o tempo, do qual já não é mais dono; os hábitos, que se confundem; a expressão que também se emudeceu. Enfim, tantas outras coisas, que a própria consciência inclui-se voluntariamente.
Vejamos nossa própria fotografia: a gente estuda, pega canudo, estuda mais e pega mais canudo. Parece que tudo é uma montagem, um truque, um disfarce para servirmos melhor nossos superiores. Assim, as escolas instruem os alunos para serem obedientes, fechados, isolados, submissos e a agradar os que possuem as rédeas do poder legitimado. E a coisa continua do mesmo jeito, desde que o mundo é mundo. É uma novela de se desconfiar: no final, todo mundo acaba atrelado, amarrado e dependente de tudo que vem dos outros e nunca de si próprio.
Se a gente ficar tentando separar a atividade do corpo e a do cérebro, ou, submeter o poderio de um em relação ao outro, poderemos correr o risco de cair num abismo. Desde que mundo é mundo, a maioria absoluta de humanos ocupantes da Terra sempre foi pobre. Olhando com a lente destes, parece óbvio afirmar que as necessidades materiais (das quais é imbuído o pobre) determina a consciência (o pensamento, a reflexão, etc) e faz com o pobre seja cada vez mais pobre. Porém, é igualmente óbvio que desde que homem é homem, os gênios nos mostram o contrário: a consciência (ou o pensamento, as idéias, etc) é que manda no corpo, dita as ações, e faz o gênio ser cada vez mais gênio. Acontece que, como os extremos estão em toda parte, o pobre descuida em demasia da consciência (e das idéias), e o gênio (artista ou inventor) acaba esquecendo que tem um corpo.
Os desconfiados não gostam de se rotular, pois, temem correr o risco de não poder desfrutar das outras possibilidades. Há cientistas corajosos o bastante para afirmar que a consciência é que conduz o corpo, outros acreditam que o corpo é que determina a consciência. Ora, a vontade de viver, leva o corpo a desejar conhecer. E, o desejo , por sua vez, conduz a consciência ao pensamento e à reflexão. Assim, o que existe é uma inter-relação, inter-necessidade ou relação íntima entre a consciência e o corpo, o desejo e a reflexão.
Não somos mais do que seres de passagem. No final, tudo volta ser essa massa única: triturado pela terra, pela água, pelo fogo e pelo vento. No fim, tudo volta e continua sempre essa massa cósmica, existência mutante e eterna.
(João Santana – filósofo, artista-educador – www.institutomaodupla.com.br)
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