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(O pequeno príncipe)

Sempre tive dificuldades com relacionamentos, de todo tipo, de modo absoluto. Quase nunca me declaro ou me revelo de modo pleno e satisfatório, pelo menos para mim: é que o mundo, este mundo, é um mundo de decepções, desconfianças. Tem sido difícil sobreviver, muito difícil!

Temos sido, necessariamente, o tempo todo, forçados a saltar de referência em referência, como quem salta de tábua em tábua, depois de a nau ter naufragado. As esperanças são mínimas. Alegria, só quando aprendemos a rir da própria desgraça ou, pior, da desgraça do próximo – se é que a isso se pode chamar de alegria, que a algumas coisas o que tenho é alergia: corrupção, banalização do sexo, da violência, da morte. Tem sido difícil sobreviver, muito difícil!

Muito difícil também é vagar sozinho entre as multidões, principalmente no período compreendido entre dezembro e fevereiro. Sob a égide das festas: álcool, drogas, promiscuidade, excessos. Em termos schopenhauerianos, preenchemos o vazio de nossa existência e nos apegamos ao presente por, sempre, temermos o nada. Definitivamente, tem sido difícil sobreviver, muito difícil!

Mas, se o assunto é distração e se temos, ainda, uma mínima noção de valor, vinculada, mesmo que de modo apelativo, à vida, esse hálito de angústia; se realmente vale alguma coisa a pena de suportar e superar a hipocrisia e a agressividade quotidianas, a única saída desse dédalo, desse labirinto de Minos, mesmo que circunstancial, seria, justo, o carnaval. E mesmo assim, tem sido difícil sobreviver, muito difícil!

Muito difícil sobreviver, porque tudo é pretexto. Tudo! E o que durante muitos anos foi o momento da troca dos papéis – momento em que nobres e plebeus se confundiam e se fundiam, mesmo que ilusoriamente –, hoje, é o momento em que assumimos de modo decisivo as nossas funções: somos todos reduzidos às nossas fantasias e fazemos papel de nós próprios – o princípio da carnavalização, da subversão, foi carnavalizado, subvertido, quase de modo absoluto. Por isso, tem sido, cada dia, mais difícil sobreviver.

Entretanto, apesar das dificuldades de sobrevivência, a despeito de toda essa aporia, não quero ser o algoz das ilusões – pois, é um cruel carrasco, o meu raciocínio. Quero também me iludir poder.

E no domingo desse carnaval pude sentir e perceber e viver a fantasia sem desatino, como se meu destino não fosse determinado e eu pudesse estar livre para ir e vir, para ir e viver, para desligar os ruídos, fazer a banda parar quando o som que lhe fosse oriundo não respeitasse a vida humana, o corpo humano, a mente humana...
E no domingo desse último pude desfilar pelas ruas de uma pequena cidade de mãos dadas à esperança que me estendeu a mão e me arrastou pelo seu bloco e me ajudou a esquecer, por algumas horas, que a vida é um bloco de pedra bruta que insiste em cair em nossas cabeças...

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*Postado por Bruno P. Rodriguês/Equipe OCT e Pleyades

1 Comentario para "DOMINGO NO BLOCO" por Edson José Sant’Ana

1 de março de 2008 às 21:44

Primoroso texto. Ágil,envolvente. Parabéns Edson.

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