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Parte I
Parte II
Parte III

"A reiteração do vocábulo nada nos dá a dimensão de nossa falta de atitude, à medida que temos, no aconchego de nosso lar, a sensação de que dispomos de privacidade, de que somos indivíduos, quando na verdade, somos transformados em objetos. Adorno e Horkheimer (2002) resolvem bem isso quando dizem que a tv, no momento em que nos aproxima do comportamento da classe dominante, nos faz mergulhar em sua ideologia e tira-nos de nossa coletividade: deixamos de sermos nós para sermos seres quaisquer.
Seguindo a mesma linha de pensamento e sem fazer do poema um amontoado de desconexões, o eu-lírico aproxima a idéia de fronteira à de cotidiano, do dia-a-dia que esvazia a fantasia. E é Heller (1985) quem diz que o cotidiano, apesar de necessário, pode impedir a manifestação espontânea do ser humano. Numa paráfrase, a repetição automatizada de certos comportamentos pode nos conduzir, de acordo com a ideologia que a preconiza, ao assujeitamento e à massificação. Na circunstância do poema, o assujeitamento é patente, pois o eu-lírico se expressa dizendo que nós não fazemos nada, quem faz tudo e faz muito bem (versos 7 e 8) e agrega a esse fazer muito bem o nos cercar por todos os lados, são sempre eles (Mas é assim o mundo que nos cerca:/Nos cerca muito bem, versos 21 e 22).

Assim, o indivíduo é reduzido a jogador de loteria e a consumidor de mercadoria (versos 6 e 20) e tem poucas chances de escapar, pois a vida é um jogo com as regras dadas e muitos guardas para nos assegurar de que nada podemos fazer, exceto o que está no script.

É necessário, ainda, que entendamos fronteira como o limite máximo de um domínio, de um território. Se associamos, então, a idéia de limite à mesma idéia de cotidiano de Heller, podemos entender que atravessar a fronteira é ir além do mito/Que limita o infinito (versos 11-12, que são reiterados nos versos 25-26 e 39-40) e proporcionar ao humano a possibilidade de deixar de ser um mero indivíduo estatístico e passar a ser alguém dotado de consciência sócio-individual.

Entretanto, atravessar a fronteira não é fácil, pois, além do cotidiano e dos guardas, há ainda as crises e cicatrizes (verso 23) que são instauradas por meio do mito. E, de acordo com Lucas (1985: 57), o mito, quando transposto para a História, endossa os valores da Ideologia, suprime a espontaneidade individual e leva o ser humano a “idealizar situações que explicam sua autolimitação e consolam-no de sua impotência”. Agindo assim, o mito, através da imposição do medo das crises e cicatrizes, transforma em fatalidade aquilo que é histórico e passível de mudança.
Resta-nos dizer, por ora, que a mudança, a travessia da fronteira, só é possível através da catarse (Heller, 1985:26), porque só através dela o homem se eleva acima da cotidianidade. Pensando assim, entendemos que o poema não é só a manifestação de um processo de purgação por que passou o eu-lírico, é também uma tentativa, através da exposição das cenas e da atualização da antiga tragédia grega pela mímesis televisiva, da elevação de outro ser ao mesmo processo de libertação pelo qual passou. Tal preocupação por parte do poeta fica patente principalmente depois de lermos os versos se eu pudesse ao menos te levar comigo/lá... pro alto da montanha, escritos anos mais tarde.

É importante, agora, esclarecermos o título do disco no qual está inserido “Os Guardas da fronteira”: A revolta dos dândis. Um “dândi”, nos ditos de Charles Baudelaire (1995), é um tipo de homem que não possui vínculos de classe, é desiludido, mas é também rico em força interior e que surge da confusão das épocas decadentes. Em nosso entendimento, precisamos colocar, um “dândi” é, também, omisso, janota e pouco afeito às causas da maioria, pois é um aristocrata decadente.
O nome do álbum torna-se, então, interessante na medida em que, antes de “dândis”, são colocados o substantivo “revolta” e o restritivo “dos”. Imagem curiosa a de um “dândi” revoltado, como seria? Talvez a materialização em linguagem rica, possibilitada por uma boa auto-educação, já não tão comum em nossas vidas, de um sentimento de que tudo está em decadência, ou é decadente, e, por isso mesmo, talvez só um “dândi” pudesse se revoltar nos dias em que os guardas de uma fronteira invisível não nos permitem enxergar mais que um palmo diante do nariz"(Continua...)

Acesse aqui o Blog de Edson Santana!

*Texto postado por Bruno P. Rodriguês/Equipe OCT e Pleyades

1 Comentario para COLUNA ALTERNATIVA : "OS GUARDIÕES, O CÍRCULO VICIOSO E A FRONTEIRA" por Edson Santana (PARTE IV)

Anônimo
27 de setembro de 2012 às 14:31

o bruno, quero mais cara!!! cadê o resto da monografia do cara? fantástico.

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