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Dando continuidade a saga, hoje postaremos a IV parte do Capítulo II da monografia acadêmica de Edson Santana sobre as letras de Humberto Gessiger (Engenheiros do Hawaí). Para quem estiver interessado, é só seguir os links e ter acesso a totalidade do texto, desde o primeiro capítulo.

Parte I
Parte II
Parte III



"O poema de Gessinger nos dá pistas das conseqüências (morais, individuais e coletivas) oriundas da impossibilidade de saciar desejos tão fortemente despertados. Isso é passível de ser constatado através da utilização da terceira estrofe, que comporta os versos na procura doentia de qualquer prazer/na arquitetura metafísica das catedrais/nas arquibancadas, nas cadeiras, nas gerais, e o emprego do vocábulo farmácia que, mais que conotar, denotam os meios de fuga procurados pelas pessoas. Sejam jogos, religiões ou vícios, tudo são as diferentes formas da manifestação uma violência travestida – ou de seus efeitos colaterais.

A agressividade que paira é tão grande, que a mídia é autocitativa, conforme encontramos o verso 17 a dizer que, no vídeo, há idiotice intergaláctica. Ilustramos tal afirmação com a passagem de um dos episódios do seriado Alf o E-Teinoso, veiculado, desde os anos de 1980 até hoje, pelas maiores empresas de tv no Brasil. Em tal episódio, o sarcástico alienígena do planeta Melmac, incumbido de ajudar na educação do mais recente herdeiro dos Tanner, diz que, se é para ajudar na educação da criança, então que comece com o mais importante e aponta, ironicamente, para o controle remoto da tv (há presença de gargalhadas artificiais) e ele continua, dizendo que “com isso, o mundo está na ponta de seus dedos”.

As cercas estão por todos os lados e as fugas quase nunca conduzem a uma saída aceitável. Isso é o que fica comprovável na estrofe-parágrafo, quando o sujeito-lírico, em tom solene e linguagem rica, relata o fato de um hipotético adolescente ter deixado uma carta a uma apresentadora de programa infantil, dizendo que a esperança também se esvai, que morre como os monstros de filmes-padrão japoneses.

O suicida não possui nada que não seja uma jaqueta, uma foto recortada de revista de fofocas e uma esperança morta ou legada, quiçá, a outra vida. A tábua de salvação desse náufrago da existência também se afundou – materialização dos comentários de Bauman.

Poeticamente, o sujeito-lírico escreve, descreve e prescreve. Ele não só aponta a doença, mas, também, suas causas e seus sintomas: doença – desilusão social e individual (esperança também dança, verso 40); causa – desejo suscitado pelas falácias televisivas, cuja frustração se dá através da consciência de que nem tudo é como aparece na tv (Tudo que ele queria era/encontrá-la um dia, versos 43 e 44); sintoma – suicídio juvenil [(todo suicida acredita na vida depois da morte), versos 44 e 45 e a presença das formas verbais nos pretéritos perfeito e imperfeito: deixou, dizia, tinha, queria e cabia].

Em outras palavras, numa só estrofe, sem desprezar o todo do texto, o eu-lírico manifesta-se de duas maneiras. Na primeira, imita e supera o tom solene do discurso jornalístico e isso pode ser endossado pela presença dos encadeamentos, à medida que aproximam o poema do ritmo prosaico, e pela presença das rimas irônicas internas (criança, esperança, dança). Na segunda maneira, ele denuncia os comportamentos e sintomas sociais oriundos de estratégias políticas e econômicas pouco humanas do bloco dominante – entre outras coisas, o formato de filmes (Eisenstein, 2000 ) e as programações televisivas" (Continua...)

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