COLUNA ALTERNATIVA: "O PERAMBULAR DE UM FANTASMA: A DESIGUALDADE" por Edson Santana (Parte II)



PARTE I

"Em se tratando da forma, o poema que ora trabalhamos é composto por 62 versos divididos em 15 estrofes. Dessas estanças, quatro são compostas pela repetição de um mesmo verso, uma delas, devido a enorme força dos encadeamentos, está, praticamente, em forma de parágrafo (estrofe-parágrafo) e outra é repetida três vezes, funcionando como refrão ou estribilho.

De maneira geral, o poema não possui métrica padronizada e, exceto pelos versos e estâncias que se repetem, é constituído irregularmente. O ritmo também é irregular, porém, acelerado, pois é grande a incidência de assíndetos, enumerações, versos coordenados e encadeamentos.

Os sinais de pontuação não são totalmente desprezíveis; existem umas poucas vírgulas, porém, com função importante, pois ajudam nas enumerações e nos assíndetos que marcam a velocidade do poema; as regras de pontuação são respeitadas ao longo de toda a estrofe-parágrafo.

Do léxico que compõe o poema, destacamos as palavras violência, travestida, derrota, lâminas, mal, armas, medo, morte, vida, iniciativa, bala, perdida, perdido, enterra, liberal, suicida e, principalmente, trottoir, do vernáculo francês, e a expressão no ar. Importante, ainda, é a presença o verbo fazer, conjugado na terceira pessoa do singular no presente do indicativo.

Em relação ao modo de grafia do poema, devemos destacar o fato de todo seu corpo ser escrito com letras minúsculas, ao passo que seu título é grafado com letras maiúsculas. Percebemos também que o poema é estruturado em blocos e se aproxima da estrutura da programação televisiva, uma vez que o verso insistente, a violência travestida faz seu trottoir, funciona como um intervalo comercial que é repetido, escancaradamente, 12 vezes, além de estar dividido em dois outros versos (56 e 57) e de ser, em outra estrofe, precedido pelo conectivo e, verso 47. Além disso, ao ser aberto com a expressão no ar, que corrobora para a mímesis televisiva, o poema comunga da mesma expressão utilizada na abertura de muitos programas de televisão durante muitos anos (o Jornal Nacional é o nosso exemplo).

A constante incidência do verso-título ao longo de todo o poema, associada à grande incidência de assíndetos e aos versos coordenados (e a coordenação de períodos é típica da linguagem publicitária), não apenas imita um aspecto midiático, como nos faz pensar na velocidade, insistência, eficiência e mutabilidade com as quais nos são oferecidos produtos.

O texto é construído sobre a argumentação de que uma violência disfarçada é onipresente e passeia, batendo de porta em porta, podendo alcançar (e alcançando) qualquer pessoa; mas, antes que prossigamos com nossa leitura, é necessário que façamos alguns comentários sobre o processo de globalização/mundialização da economia e a relevante participação da mídia em tudo isso, principalmente em países, como o Brasil, em que a riqueza esteja concentrada em mãos de uns poucos (Continua...)".

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Comentários

Roberto A disse…
Edson! Texto bacana! A figura da família Adams combinou total!

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