OCT BRASIL: "Escalação e remuneração, dizem os músicos, são os pontos fracos dos festivais apoiados pela Abrafin"
OCT: completando um ano em novembro, abrindo novas perspectivas para o cenário cultural independente.
A Associação Brasileira dos Festivais Independentes – Abrafin – reúne 32 eventos que, durante um ano, são capazes de apresentar aproximadamente 400 novas bandas pela maioria dos estados do país. Trata-se de um circuito grandioso, que se tornou em pouco tempo uma das principais plataformas de divulgação da nova música – principalmente pop e rock – produzida no Brasil. Porém, a associação, que completa dois anos de existência legal em 2008 e é composta por festivais consagrados como Abril Pro Rock (PE), Goiânia Noise (GO), Calango (MT), Mada (RN), Jambolada (MG) e Porão do Rock (DF), já começa a receber críticas diversas de sua principal força-motriz: bandas e seus integrantes.
Escalação e remuneração, dizem os músicos, são os pontos fracos dos festivais apoiados pela Abrafin. “Os caras [produtores] começaram como banda. Viraram festivais. Hoje, são uma associação. Só que precisa haver um mecanismo estatutário que não transforme eventos em ‘festas da brodagem’ obtidas por meio de aprovação do Ministério da Cultura”. afirma Marvel, vocalista do quarteto carioca Cabaret, que já se apresentou em festivais como Mada, Calango e Se Rasgum (PA). “Acho que a Abrafin criou uma nova visão do mercado musical tanto para produtores quanto para bandas. Muitas coisas floresceram sob a marca deles. Como artista, a construção desse circuito de festivais me parece maravilhosa, mas eu gostaria que eles tivessem formas de impedir que tudo vire uma grande panela, completa”
Em Belém (PA), o festival Se Rasgum chega a sua terceira edição em 2008 sem jamais ter se associado à Abrafin (a associação só aceita entre seus membros eventos que tenham acontecido por pelo menos três anos consecutivos). “Me sentiria bem participando da Abrafin, contanto que a curadoria não sofresse imposições ou tivesse que rezar alguma cartilha”, diz Marcelo Damaso, produtor do Se Rasgum. “Se existe uma liberdade, beleza, mas existem bandas que participam de todos os festivais por fazer parte dos interesses de alguns produtores. Acho que a ideologia do compromisso com o melhor da nova música brasileira se perde pela onda de ‘dar uma força’”, critica.
Algumas fontes ouvidas pela reportagem não quiseram assinar suas opiniões, alegando receio de represálias por parte das organizações dos eventos. “A maioria silencia porque teme ser excluída do circuito”, define Dary Jr., vocalista do Terminal Guadalupe, de Curitiba (PR), que já participou de vários festivais, mas atualmente anda fora das escalações. “Eu admito que meço as palavras, embora a banda já seja carta fora do baralho. Na verdade, temo apenas que alguns produtores que ainda queiram nos incluir em suas escalações sejam pressionados.”
A tal “panela”, explicam os artistas, se daria mais na diferença do tratamento dado às bandas do que nas escalações dos festivais propriamente ditas. “Existe uma troca de favores aí”, dispara Marvel. “Se eu tenho um festival e uma banda e você tem um festival e uma banda, eu te escalo no meu, pagando suas passagens, e depois você me compensa da mesma forma. Você não tem festival? Então o máximo que posso te dar é uma ajuda de custo. Aí, obviamente, algumas bandas acabam viajando sem ter a recepção desejada e o custeio digno.”
Já entre as bandas, há quem veja o apoio financeiro com ressalvas. “O que me incomoda é que existe uma linha de pensamento que acha super-legal a gente criar um ‘mercado’ tipo o do cinema, que no fundo não é mercado coisa nenhuma, é festival bancado pelo governo”, opina Gustavo Martins, do quarteto paulistano Ecos Falsos, que já participou de sete festivais da Abrafin. “Acho que, se tem dinheiro público, deveríamos então fazer festival de graça, como o [pernambucano] Rec Beat, ou então ingressos a R$ 3, porque R$ 15 já é caro. Parece que agora ficou impossível fazer show sem lei de incentivo, como também é ‘impossível’ fazer filme sem dinheiro público.”
íntegra:
http://www.rollingstone.com.br/materia.aspx?idItem=3448&titulo=Festivais+em+Movimento&Session=Rock+%26+Roll
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