E OS CARAS DO "MÃO-DUPLA"?



Estão trabalhando muito! Nesta última semana tivemos contatos com os irmãos "Santana's". Atualmente residem no interior de São Paulo, com os trabalhos do Instituto Mão-Dupla. Acabaram de concluir a gravação do primeiro Álbum - "Filho da terra", e agora estão articulando com várias universidades do país, o lançamento.

O "Mão-Dupla", embora esteja a quilômetros de distância, é uma banda que consideramos parte de nosso grupo, pois sempre que podem, estão dando aquela força, além de uma grande parte dos primeiros meses da OCT, ter nos presentiado com textos brilhantes. E para não perder o costume, João Santana, acaba de nos mandar mais um:

O DEUS DA MÚSICA

Um menino sonhou que um grande gênio da música procurava uma idéia original e fabulosa para homenagear o deus da música.

Numa noite esplendorosa, os auto-falantes de uma cidadezinha anunciou um grande espetáculo: um gênio havia inventado um Piano de cem metros, e, querendo homenagear o deus dos sons, visualizou no povoado o lugar ideal para prestar a grande honra, para realizar o grande feito.

O artista idealizador estava com tanta clareza de sua idéia, que, pedindo um lápis, riscou num papel a maquete do Piano gigante, incluindo a abóbada (ao fundo, interligada) e sobre a abóbada, o palco. O desenho era uma simulação da idéia de que, quando uma corda fosse puxada, de acordo com a métrica da música, uma viga bem comprida acionaria uma marretinha, e esta acionaria uma corda esticada e devidamente afinada, provocando sonoridade.

O gênio, pelo seu poder de argumentação e sedução, ganhou com facilidade um terreno bem espaçoso no vilarejo, e, foi realmente necessário para garantir o bom andamento dos trabalhos, principalmente para a construção do Grande Piano, os ensaios freqüentes, os preparativos finais, e finalmente, a dia da homenagem.

Foram anos de construção. A madeira teve de ser trabalhada com cuidados especiais, pois, além da qualidade esperada, o inventor queria ressaltar a estética, o embelezamento e o encanto natural. O Grande Piano foi construído, em formato “meia-lua”.

Para garantir a sonoridade do instrumento, o Grande Artista sugeriu que fosse acoplada uma abóbada bem fechada, sem nenhuma fresta, de modo que interligasse a “meia-lua”, dessa forma, garantiria uma boa acústica. O processo da construção foi lento, mas, muito eficaz. Um ano inteiro demorou somente para a afinação das cordas internas do Piano, e outro ano completinho para o ensaio. Afinal, ensaiar uma música com cem pessoas tocando numa certa sincronia, não deve ser nada fácil.

Naturalmente, o povo do lugar sentiu-se lisonjeado (na hora, pensei na “cara de frango”). Mas, para tocar o Grande Piano, o gênio precisou convocar todos os moradores do povoado, uma vez que as teclas do Piano eram tão imensas que uma pessoa sozinha não conseguia tocar mais do que uma tecla. O Grande Piano ficou tão distante do solo, que tiveram de amarrar uma corda em cada tecla, e deixá-las dependuradas, formando uma grande fileira de teclas, seguindo o formato “meia-lua” do Piano.

O esperado dia chegou: o menino que estava a dormir, não sabia se estava sonhando ser o gênio, ou o próprio gênio sonhando que era o menino, e, num lugar distante, imaginando a construção do Piano gigante, para homenagear o deus dos sons. E ali, encantado com a criação, preferiu ficar a sós, na parte interna da construção, e nem saiu para assistir ao espetáculo. A porta da abóbada foi fechada para dar início ao espetáculo musical, mas, ele ficou lá, como que preso no mundo dos sons.

A música começou: os sons foram entranhando seus ouvidos... nunca havia escutado uma canção tão bela como aquela, em toda sua vida. Ficou tão mergulhado no êxtase sonoro, que sem se dar conta, sentiu como de uma só vez, todas as íntimas emoções que fluía em seu corpo.

Depois de um longo tempo de alegria e êxtase, o corpo fica entregue, exposto à contemplação da embriaguez. Mas, com um pouco de esforço, foi voltando do êxtase, e, conseguindo perceber a qualidade sonora que cada corda emitia, quando era acionada pela marretinha. Um som era diferente do outro, incrivelmente real, como na natureza, onde cada coisa existente possui um som único e variado. Além da qualidade sonora única, percebia que alguns sons soavam ora fracos, ora fortes, dependendo da caminhada ou da dinâmica das notas que iam tecendo a melodia.

No meio de toda uma turbulência sonora, o garoto ouvia nitidamente os sons graves e os agudos – baixos e altos – como também reconhecia a duração de cada som, e também o tempo de silencio que havia entre o momento em que a marretinha levantava, até o momento em que acionava a corda do Grande Piano.

O vilarejo ficou repleto de tanta gente, de tudo quanto é canto, para assistir a homenagem.

Num determinado momento da peça musical, a pausa ficou bem extensa, os sons haviam cessado. O menino estranhou, levantou devagar, abriu a porta da abóbada na certeza de que iria encontrar o gênio para lhe contar tudo a respeito dos sons, mas, queria principalmente revelar a ele o seu segredo, que o deus da música é o vento. Acreditando estar vendo o gênio do outro lado da porta, assustou-se com o espelho e acordou.

O espetáculo terminou. Mas, foi preciso que todos retornassem para suas casas, para poder acreditar que haviam sonhado um grande sonho. E a partir do sonho, um povo surgiu, por que um sonho os despertou.

Dizem que o menino passou por um profundo esquecimento, motivo pelo qual, por onde passava, fazia todo mundo sonhar, para ver se conseguia lembrar quem era...


JÁ CONHECE O INSTITUTO MÃO DUPLA?

OUÇA AQUI AS PRIMEIRAS GRAVAÇÕES DO "FILHO DA TERRA"!

(João Santana – filósofo, artista-educadorwww.institutomaodupla.com.br)

Comentários

Anônimo disse…
Cara, quanto tempo que JOão não aparecia por aqui né? Um cara extremamente talentoso e inteligente, diga-se de passagem.

O texto é brilhante, as vezes me faz lembrar os contos de Hans Christian Andersen!

Parabéns Mão-Dupla! Sempre são muito bem vindos aqui!

Abraços!
Roberto A disse…
Taí caras que eu boto fé!
Anônimo disse…
A gravação ficou foda mesmo!

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