Domingo Literário: Antônio Sodré - o poeta da transmutação.
Dizem - e não é inverdade - que a gente só reconhece o valor de uma pessoa depois que ela morre. Assim tem acontecido sempre com a arte (por não fazer sentido prático): Os poetas são reconhecidos só depois que partem. Eu deixaria esse texto pra depois. Mas acho importante agora uma homenagem póstuma minha. Conheci Sodré em 2007, recente. Via-o sempre vendendo livros. Depois descobri que Sodré era poeta. Trabalhei um tempo na banca dele. Emprestava livros, e pendurava, quando a gente não tinha dinheiro. Sodré conhecia de literatura e aprendi bastante com ele. Era um entusiasta de mão cheia: Sempre quando tinha saraus ele chamava e a gente ia recitar poesia. Ele recitava as dele. Eu recitava as dele. Deu oportunidade pra eu expôr minhas poesias no varal e tava sempre ensinando alguma coisa. Achava que a gente tinha que movimentar a universidade. Respirava poesia. Sodré conhecia de música, tocava flauta e viola, pelo que eu sei. Integrou o Caxemir, pelo que eu sei também. Produzia muito, tanto musicalmente quanto literariamente. Foi grande.
Mario Cezar Silva Leite, professor doutor da UFMT, escreveu prefaciando a obra de Sodré, o "Empório Literário: versos diversos":
"O que mais me chama a atenção na poesia de Antônio Sodré - além da já apontada maneira de olhar e traduzir o cotidiano, que pela sua tradução perde-se enquanto cotidiano - é o trabalho com as imagens. A força da poeticidade no manuseio das imagens. O sistema bastante recorrente é de imagens que a partir de uma espécie de explosão, ou exploração, exterior entorna-se para o interior como se mundo, planeta alteridade e poeta (eu-lírico) fossem inicialmente coisas diferentes que pelo processo poético, pela poesia, tornam-se um só."¹
Sodré vai fazer muita falta pra todo mundo. Pra poesia, especialmente. A nós, um poema (gosto muito):
[comparação da galinha kokorókika com o poeta medíocre]
- meu! por que a galinha kokorókika "põe" lindos ovos de ouro
e você Sodré, só consegue pôr versos medíocres num papel em branco?!
vê se te manca, meu! ou siga o exemplo da galinha kokorókiKa:
- choque seus versos
antes de botá-los no papel!²
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¹Empório Literário: versos diversos. p.09. Carlini & Caniato. 2005)
²Empório Literário: versos diversos. p.90. Carlini & Caniato. 2005)
Comentários
Enfim, as suas palavras serão eternas!
cem idades
Sei que sou tão velho e tão moço
Que me renovo a cada geração seguida...
O caminho do homem percorro sempre;
Já devo ter dado mais de mil voltas
Ao redor da terra:
Vi Chinas, Américas, Oceanias...
Isso tudo me vem como um sinal da lembrança
Do que fui? Do que sou? Do que serei?!
Em mim passado, presente e futuro se confundem,
Pois sou tão velho que a própria razão de me
Existir se perdeu no tempo...
Por ter tanta idade assim, posso dizer que sou eterno!
(Antônio Sodré)