Posted by Maximiliano Merege Categories: Marcadores: , ,

Pouco ou quase nada conhecida por aqui, a música de Antônio Variações é um desses belos tesouros cuja descoberta só foi possível graças ao advento da internet. Não se trata de algum grande vendedor de discos ou de galã de fama universal, mas de um grande artista da língua portuguesa ao qual apenas agora podemos conhecer e entender que, apesar de “tudo”, suas ideias refletiam (e refletem atemporalmente) apenas verdades universais cabíveis a todo e qualquer ser humano.
Nascido na cidade portuguesa de Braga e criado no interior, Antonio era filho de gente humilde do campo. Sua infância dividiu-se entre os estudos e o trabalho na roça. Aos onze anos, teve o seu primeiro emprego, e, um ano depois, partiu para Lisboa. Foi officeboy, barbeiro, balconista e caixeiro. Entrou para o quartel e foi servir na Angola, o que lhe encorajou a seguir para outros cantos. Primeiro foi Londres e em seguida Amsterdam, quando descobriu um novo mundo, sentiu que podia trazer para Portugal, um lugar então afundado no atraso econômico e cultural, uma nova maneira de viver. Em Amsterdam aprendeu a profissão de cabelereiro que mais tarde, quando voltou, passou a exercer em Lisboa, quando também resolveu “sair do armário” e assumir-se ante àquela obscura realidade conservadora que permeava Portugal.

Montou uma banda, o grupo Variações, que em pouco tempo já atraia as atenções. Por um lado, um visual excêntrico ao extremo e, por outro, sua versátil musicalidade que combinava muito bem estilos como o rock, o pop, o blues e, é claro, o fado.

Em 1978, grava uma demotape e logo assina seu primeiro contrato. Em 1981 começou a participar de programas de televisão. Sua música e seu estilo próprio e inconfundível fizeram com que depressa alcançasse considerável fama em seu minúsculo porém diverso país.

Gravou pouca coisa, mas gravou material de muito boa qualidade, não apenas sonora mas poética também. Editou o primeiro single com “Estou Além” e “Povo que Lavas no Rio”, de Amália Rodrigues (sua maior referência). Logo em seguida, gravou o seu primeiro elepê, Anjo da Guarda, onde se destacaram sucessos portugueses como “É p´ra Amanhã” e “O Corpo É que Paga”.

Em fevereiro de 1984 vem à luz seu segundo trabalho, “Dar e Receber”, de onde vem sua música mais famosa, a “Canção do Engate”. Dois meses mais tarde, dia 22 de Abril, Antonio Variações se apresentaria pela última vez, em um concerto pelo interior. Depois disso, só apareceria mais uma vez em público, em um conhecido programa da RTP.

Quando Canção de Engate invadiu as rádios, António Variações já se encontrava com a saúde bastante debilitada. Internado em um hospital da Cruz Vermelha, morreu aos 40 anos, na noite de Santo Antônio (13 de Junho), vítima de uma broncopneumonia, causada pela AIDS.

Vinte anos após a sua morte, foi lançado um álbum em sua homenagem, com canções da sua autoria que nunca tinham sido editadas; conhecidos músicos portugueses juntaram-se e gravaram 12 músicas selecionadas de um conjunto de fitas "perdidas" no património de Variações.

Em entrevista, António Variações explicou o nome escolhido: "Variações é uma palavra que sugere elasticidade, liberdade. E é exatamente isso que eu sou e que faço no campo da música. Aquilo que canto é heterogéneo. Não quero enveredar por um estilo. Não sou limitado. Tenho a preocupação de fazer coisas de vários estilos."


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Artigo originalmente publicado no Jornal Folha do Estado, Cuiabá-MT, domingo, 10/10/2010.


O Corpo É Quem Paga


Estou Além


Canção d'Engate (por UHF)

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