DOMINGO LITERÁRIO - "PABLO NERUDA" POR SANDRIANE DIAS



Para que vocês possam conhecer um pouco mais da vida desse grande homem, escritor e poeta. Boa leitura!!

Filho de um operário ferrroviário e de uma professora primária, nasceu em 12 de julho de 1904, na cidade de Parral (Chile). Seu nome era verdadeiro era Neftalí Ricardo Reyes Basoalto. Perdeu a mãe no momento do nascimento.Em 1906, a família muda-se para a cidade de Temuco. Começa a estudar por volta dos sete anos no Liceu para Meninos da cidade. Ainda em fase escolar, publica seus primeiros poemas no jornal “ La Manãna”. No ano de 1920, começa a contribuir com a revista literária “Selva Austral”, já utilizando o pseudônimo de Pablo Neruda (homenagem ao poeta tcheco Jan Neruda e ao francês Paul Verlaine).

No ano de 1927, começa sua carreira diplomática, após ser nomeado cônsul na Birmânia. Em seguida passa a exercer a função no Sri Lança, Java Singapura, Buenos Aires, Barcelona e Madrid. Nesta viagens, conhece diversas pessoas importantes do mundo cultural. Em Buenos Aires, conheceu Garcia Lorca, e em Barcelona Rafael Alberti.

Em 1930, casa-se com María Antonieta Hagenaar, divorciando-se em 1936. Logo após começou a viver com Delia de Carril, com quem se casou em 1946, até o divórcio em 1955. Em 1966, casou-se novamente, agora com Matilde Urrutia.

Em 1936, explode a Guerra Civil Espanhola. Comovido com a guerra e com o assassinato do amigo Garcia Lorca, compromete-se com o movimento republicano. Na França, em 1937, escreve “Espanha no coração”. Retorna neste ano para o Chile e começa a produzir textos com temáticas políticas e sociais.

Em 1943, é eleito senador da República. Comovido com o tratamento repressivo que era dado aos trabalhadores de minas, começa a fazer vários discursos, criticando o presidente González Videla. Passa a ser perseguido pelo governo e é exilado na Europa.

Em 1952, publica “Os versos do capitão” e dois anos depois “ As uvas e o vento”.. Em 1965, recebe o título honoris causa da Universidade de Oxford (Inglaterra). Em outubro de 1971, recebe o Prêmio Nobel de Literatura.

Durante o governo do socialista Salvador Allende, é designado embaixador na França. Doente, retorna para o Chile em 1972, quando vivencia o Golpe de Estado arquitetado pelos militares. Em 23 de setembro do ano seguinte, morre de câncer de próstata na Clínica Santa Maria de Santiago (Chile).

Seus poemas são de cunho social, mas quando falam de amor demonstram toda a sensibilidade desse grande poeta, separei alguns deles e sugiro que vocês assistam ( se é que já não assistiram) o filme “ O carteiro e o Poeta”, que fala de sua vida, é simplesmente maravilhoso e que leiam o livro de poemas Elegia , de 1974 que foi escrito depois de uma viagem que fez com sua mulher à Rússia.


“Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.”



O teu riso

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.
Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.
Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.
À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.
Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.


“ PLENOS PODERES ”
- Plenos Poderes - 1962 –

“A PURO sol escrevo, em plena rua,
em pleno mar, aonde posso canto,
somente a noite errante me detém
mas em sua interrupção recolho espaço,
recolho sombra para muito tempo.
O trigo negro da noite cresce
enquanto meus olhos medem a pradaria
e assim, de sol a sol, faço as chaves:
busco na obscuridade as fechaduras
e vou abrindo ao mar as portas rasgadas
até encher os armários com espuma.
Eu não me canso de ir e de voltar;
não me pára a morte com sua pedra,
não me canso de ser e de não ser.
Às vezes me pergunto de onde,
se de pai ou de mãe ou cordilheira,
herdei os deveres minerais,
as linhas de um oceano aceso
e sei que sigo e sigo porque sigo
e canto porque canto e porque canto.
Não existe explicação para o que acontece
quando fecho os olhos e circulo
como entre dois canais submarinos,
um a morrer me leva em sua ramagem
e o outro canta para que eu cante.
Assim pois de não ser estou composto
e como o mar assalta o arrecife
com cápsulas salgadas de brancura
e retrata a pedra com a onda,
assim o que na morte me rodeia
abre em mim a janela da vida
e em pleno paroxismo estou dormindo.
A plena luz caminho pela sombra. ”





(Sandriane Dias é graduanda do último ano do curso de Letras da UFMT e compõe a atual gestão do DCE/UFMT - "Não que não se mude").

Comentários

valeu Sandriane!
Estamos muito alegres pela tua presença aqui!
Hasta la vitoria!

(Bruno P.)
Roberto A disse…
Neruda é do caralho!

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