DOMINGO LITERÁRIO: “Os sofrimentos do jovem Werther” (Goethe) por Bruno P. Rodrigues.


(A morte de Werther - quadro de Baude)

Para a grande maioria dos críticos literários “Os sofrimentos do Jovem Werther” é a grande inauguração do Romantismo. Johann Wofgang von Goethe (1749-1832 ) o publica com apenas 25 anos e o enredo é inspirado em um amor não correspondido que tivera anos antes. O livro de imediato causou um grande impacto por toda a Europa, sobretudo entre os jovens, que se suicidaram aos milhares, seguindo os passos de Werther, chegando a ser denominado como o “mal do século” e colocado pela Igreja no Índice dos “Livros Proibidos”. Goethe, após a publicação do livro, foi duramente condenado, apesar da grande fama do livro. Amargava duras lembranças da obra: "Quando alguém olha para o meu livro, tenho sempre a impressão de que me cortam em dois." E continua: "Ontem eu me sentia liberto e aliviado, porque havia transformado a realidade em poesia, meus amigos se enganaram, acreditando que se devia transformar a poesia em realidade."


O drama de Werther inicia-se quando se muda para um pequeno vilarejo e conhece Charlotte. Apaixona-se por ela, mas o amor não pode ser correspondido, pois esta era noiva de Albert, que estava ausente. Albert retorna e Werther vê suas esperanças ruírem, uma vez que depositará todo o sentido de sua vida, em Charlotte. Entra em uma profunda crise acompanhada de grandes reflexões sobre o papel da vida, dos outros e de si mesmo. O único desfecho que encontrara foi uma pistola... O jovem Werther estava morto e não sofria mais.

O livro é escrito em um conjunto de cartas que Werther escrevia ao seu amigo Wilhelm – o que dá um caráter verossímel e intrigante à estética da narrativa. É uma obra impactante, cheira, tem cores, dá-nos uma sensação “Déjà vu”, de já termos pensado e ou nos questionado sobre determinado aspecto da vida. É uma obra de profunda e delicada percepção da realidade.

CRONOLOGIA DE GOETHE
* 1749 - Aos 28 de agosto, em Frankfurt-sobre-o-Meno, nasce Johann Wolfgang Goethe, filho de Johann Kaspar e Katharina Elizabeth Goethe.
* 1759 - Em janeiro, Frankfurt é invadida pelos franceses.
• 1765 - Em outubro, Goethe começa a cursar a universidade, em Leipzig.
• 1766 - Conhece Anette Schömkopf, inspiradora de seus primeiros poemas.
• 1768 - Gravemente enfermo, volta a Frankfurt.
• 1770 - Em Strasburgo, estuda direito, medicina, história e ciências políticas. Conhece Herder.
• 1771 - Licencia-se em direito. Em novembro, escreve a primeira versão do drama "Götz von Berlichingen".
• 1772 - Apaixona-se por Charlotte Buff.
• 1773 - Publica a segunda versão de "Götz von Berlinchingen". Inicia "Fausto; uma Tragédia".
• 1774 - Publica "Os Sofrimentos do Jovem Werther".
• 1775 - Na Páscoa, fica noivo de Lili Schönemann. Em outubro, rompe o noivado. Em novembro, parte para Weimar, a convite do Duque Carlos Augusto.
• 1776 - Estabelece-se em Weimar.
• 1779 - Encena o drama "Ifigênia em Táurida".
• 1786 - Em setembro, viaja para a Itália. Conclui a última versão de "Ifigênia".
• 1787 - Viaja pelo sul da Itália. Dedica-se a pesquisas científicas. Em junho, volta a Weimar.
• 1788 - Conhece Christiane Vulpius, mais tarde sua esposa. Conclui "Torquato Tasso". Conhece Schiller.
• 1794 - Estada em Iena, junto a Schiller.
• 1797 - Termina o poema "Hermann e Dorotéia".
• 1805 - Morte de Schilier.
• 1808 - Goethe publica "Fausto; uma Tragédia", e em outubro é recebido por Napoleão Bonaparte.
• 1819 - Termina "Divã Oriental".
• 1832 - Aos 2 de fevereiro termina o "Segundo Fausto", e, aos 22 de março, morre.


Abaixo uma carta de Werther a Wilhelm.




[...]
Maio, 22


A vida humana não passa de um sonho. Mais de uma pessoa já pensou nisso. Pois essa impressão também me acompanha por toda a parte. Quando vejo os estreitos limites onde se acham encerradas as faculdades ativas e investigadoras do homem, e como todo o nosso trabalho visa apenas a satisfazer nossas necessidades, as quais, por sua vez, não têm outro objetivo senão prolongar nossa mesquinha existência; quando verifico que o nosso espírito só pode encontrar tranqüilidade, quanto a certos pontos das nossas pesquisas, por meio de uma resignação povoada de sonhos, como um presidiário que adornasse de figuras multicoloridas e luminosas perspectivas as paredes da sua cela... tudo isso, Wilhelm, me faz emudecer. Concentro-me e encontro um mundo em mim mesmo! Mas, também aí, é um mundo de pressentimentos e desejos obscuros e não de imagens nítidas e forças vivas. Tudo flutua vagamente nos meus sentidos, e assim, sorrindo e sonhando, prossigo na minha viagem através do mundo.

As crianças - todos os pedagogos eruditos estão de acordo a este respeito - não sabem a razão daquilo que desejam; também os adultos, da mesma forma que as crianças, caminham vacilantes e ao acaso sobre a terra, ignorando, tanto quanto elas, de onde vêm e para onde vão. Não avançam nunca segundo uma orientação segura; deixam-se governar, como as crianças, por meio de biscoitos, pedaços de bolo e ameaças. E, como agem por essa forma, inconscientemente, parece-me, que se acham subordinados à vida dos sentidos.

Concordo com você (porque já sei que você vai contraditar-me) que os mais felizes são precisamente aqueles que vivem, dia a dia, como as crianças, passeando, despindo e vestindo as suas bonecas; aqueles que rondam, respeitosos, em torno da gaveta onde a mãe guardou os bombons, e quando conseguem agarrar, enfim, as gulodices cobiçadas, devoram-nas com sofreguidão e gritam: “Quero mais!” Eis a gente feliz! Também é feliz a gente que, emprestando nomes pomposos às suas mesquinhas ocupações, e até às suas paixões, conseguem fazê-las passar por gigantescos empreendimentos destinados à salvação e prosperidade do gênero humano. Tanto melhor para os que são assim! Mas aquele que humildemente reconhece o resultado final de todas as coisas, vendo de um lado como o burguês facilmente arranja o seu pequeno jardim e dele faz um paraíso, e, de outro, como o miserável, arfando sob seu fardo, segue o seu caminho sem revoltar-se, mas aspirando todos, do mesmo modo, a enxergar ainda por um minuto a luz do sol... sim, quem isso observa à margem permanece tranqüilo. Também este se representa a seu modo um universo que tira de si mesmo, e também é feliz porque é homem. E, assim, quaisquer que sejam os obstáculos que dificultem seus passos, guarda sempre no coração o doce sentimento de que é livre e poderá, quando quiser, sair da sua prisão [...]

Comentários

Dá-lhe Bruno!

Legal é que depois de todas as tretas, com a gurizada se matando no atacado, o autor passou a usar uma epígrafe: "Se vc é homem, não vai me seguir"

Massa demais essa matéria!

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