RETOMANDO...DOMINGO LITERÁRIO: "MÚSICA" POR JOÃO (PARADISE HORROR SHOW)

Retomando nosso tradicional "Domingo Literário", e na tentativa de circunscrever o momento em que os ânimos dentro do rock estão, digamos assim, exaltados, e em que as cartas estão sendo colocadas na mesa, trazemos aqui o pequeno texto de João, guitarrista do Paradise Horror Show, ao qual o mesmo faz uma pequena análise do que vem a ser a música, no diálogo com vários filósofos e grandes compositores.


Ludwig van Beethoven

"O que é música? De onde ela vem? Para onde ela leva? são perguntas recorrentes que em vezes vem e vão da mente. É como pensar no infinito. Nietzsche disse que:

Sem a música, a vida seria um erro!

E não falta razão ao seu pensamento. As vezes penso na música como qualquer manifestação que está para além do silêncio. Outras vezes o próprio silêncio é a melhor música. A música transcende, como já dizia Marcel Proust:

A música pode ser o exemplo único do que poderia ter sido - se não tivesse havido a invenção da linguagem, a formação das palavras, a análise das ideias - a comunicação das almas.

A música é muito mais que uma expressão de arte. É paixão e Nietzsche sabia bem disso, tanto sabia que disse:

A música oferece às paixões o meio de obter prazer delas!

Talvez seja até mais que expressão de paixão ou paixão pura, seja algo de alma mesmo como disse Proust. Há música em tudo e em tudo há música. As músicas são emanadas das mais diferentes e inconcebíveis formas, mas é necessário aptidão para apreciá-la. Uma aptidão que vem inclusive das virtudes de cada um. Alguns talvez digam que saibam como cultivar música, mas o mesmo talvez vem para contestar essa hipótese, já que, como disse Confúcio:

Como é que um homem sem as virtudes que lhe são próprias pode cultivar a música?

Eu sinceramente não vejo como! As virtudes fazem parte do processo. É como dizer que conseguir-se-á cultivar flores sem sol, sem água ou sem terra. Há propriedades nas virtudes dos homens que ajudam-nos a entrar em contato íntimo com a música. A música é algo formidável, pois "A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende", disse Schopenhauer. É além de tudo uma leveza da alma e do espírito. Complementando a música é de tal forma apoteótica que transcende, inclusive, a si mesma. Beethoven não me deixa mentir dizendo: A música é o vínculo que une a vida do espírito à vida dos sentidos. A melodia é a vida sensível da poesia! Eu diria, num modo um tanto mais grosseiro, que a música é a poesia assoviada, mas pela alma! Contudo, sinto dizer que a música não é para todos e é Beethoven quem diz:

Milhares de pessoas cultivam a música; poucas porém têm a revelação dessa grande arte.

No entanto a música é manifesto que é ouvido desde o primeiro choro de vida. O próprio choro é uma música que alegra muito. Ernst Hoffmann dizia que: "A música começa onde acaba a fala", mas talvez, creio, seja mais que isto. A música começa também quando o som acaba. Há música inclusive onde não há som. Músicas que não são ouvidas, mas puramente sentidas pela alma. A música, em si, expressa a vida. Expressa o mundo e suas matizes de forma que: "Pouco importam as notas na música, o que conta são as sensações produzidas por elas", já dizia Leonid Pervomaisky. A música é muita coisa. Não seria a música uma língua perdida, da qual esquecemos o sentido e conservamos apenas a harmônia?como disse Massimo Azeglio. A música é o modo de colocar, as vezes, para fora o que escondemos de nós mesmos. Existem músicas e músicas, melodias e melodias, acordes, notas... Existe expressão e atividade. Comunhão de sentimentos e paz. A música, em vezes, é o amor choroso em notas tristes, em vezes é ódio bufante em acordes distorcidos. É calmaria e serenidade. É chuva e sol. É água e vinho. É o grito de ajuda ou o agradecimento pela conquista. É história e é também geografia. É matematica, pura matematica. A música é paixão, é cura da solidão. É o tempo, enquanto a distância maltrata. A música é a vida! Apenas a vida. Por fim, "Quem entender a minha música nunca mais será infeliz", disse Beethoven. Alguma razão assiste-lhe, pois sua música cura muitos males, aos que entendem-a. "Modesto" foi este gênio talvez ao dizer isso, diante de tantas outras músicas. Contudo, os que a entenderam... souberam que havia alma dentro de cada nota e esta alma traz consigo muita serenidade. Muitos já falaram sobre música, muitos outros falarão ou se expressarão em suas próprias instrospecções sobre o que ela representa, mas no fundo a todos descobrirão que a música é caminho para o mundo, o mundo da alma."

Comentários

Bruno Rodrigues disse…
Muito legal o texto! Praticamente foi a reunião do que há de melhor no mundo da filosofia e dos grandes compositores: Nietzsche, Shopenhauer, Proust, Beethoven, dentre outros.

Parabéns João!
Roberto A disse…
bem legal mesmo!

tomara que role todo domingo...

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