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Incontestávelmente Fiodor Mikhailovich Dostoievski (1821-81) foi um dos maiores escritores que a humanidade já conheceu. Dentre suas principais obras destacam-se "Crime e Castigo", "O Idiota", "O Jogador", "Os Demônios", "O Eterno Marido" e "Os Irmãos Karamazov".

Segundo Freud, "Os irmãos Karamazov" foi o maior romance já escrito. A obra conta a história de um parricídio e a degeneração da familia Karamazov, em que o Niilismo e o ateísmo são os principais responsáveis. Cobiça, exploração, deslealdade e mentira, são outros temas do enredo no qual é constituído o retrato de uma época conflitante, configurando-se como um romance atemporal, lido e re-lido durante todos esses anos desde que fora publicado. Inúmeras questões são abordadas, com destaque à existência de Deus - "Se Deus não existe tudo está permitido". Existem motivos para proibições? Só existem se Deus existe, segundo o autor. Não é nem uma negação ou afirmação de Deus. A responsabilidade é colocada inteiramente nas mãos do indivíduo, que de acordo com suas decisões, constituirá sua ética e direcionará suas intervenções no mundo físico.

Abaixo uma fala carregada de ironias de Ivan karamazovi (o protagonista do livro):

[...]Possuo uma interessante brochura traduzida do francês, em que se conta a execução em Genebra, há cinco anos, de um assassino chamado Ricardo, que se converteu ao cristianismo antes de morrer, na idade de 24 anos. Era filho natural, dado por seus pais, quando tinha seis anos, a pastores suíços, que o educaram para fazer dele um trabalhador. Cresceu como um pequeno selvagem, sem nada aprender; aos sete anos, mandaram-no a fazer pastar o rebanho, ao frio e à umidade, mal vestido e faminto. Aquela gente não sentia nenhum remorso ao tratá-lo assim; pelo contrário, achava que tinha direito de fazê-lo, porque lhe haviam dado Ricardo como uma coisa e não julgava mesmo necessário nutri-lo. O próprio Ricardo conta que então, como o filho pródigo do Evangelho, quis mesmo comer a var¬redura destinada aos porcos que eram engordados, mas era privado disso e batiam-lhe quando ele a roubava dos animais; foi assim que passou sua infância e sua mocidade, até que, tornando-se grande e forte, pôs-se a roubar. Aquele selvagem ganhava a vida em Genebra como jornaleiro, bebia seu salário, vivia como um monstro e acabou por assassinar um velho para roubá-lo. Foi preso, julgado e condenado à morte. Não se é sentimental naquela cidade! Na prisão, é logo cercado pelos pastores, pelos membros de associações religiosas, pelas senhoras patrocinadoras. Aprendeu a ler e a escrever, explicaram-lhe o Evangelho e, à força de doutriná-lo e de catequizá-lo, acabou por con¬fessar solenemente seu crime. Dirigiu ao tribunal uma carta declarando que era um monstro, mas que o Senhor se havia dignado esclarecê-lo e enviar-lhe sua graça. Toda Genebra ficou emocionada, a Genebra filantrópica e beata. Tudo quanto havia de nobre e de bem-pensante acorreu à prisão. Beijam-no, abraçam-no: 'Tu és nosso irmão! Foste tocado pela graça!" Ricardo chora de enternecimento: "Sim, Deus iluminou-me! Na minha infância e na minha mocidade, invejava eu a varredura dos porcos; agora, a graça tocou-me, morro no Senhor!" "Sim, Ricardo, tu derramaste sangue e deves morrer. Não é culpa tua se ignoravas Deus, quando roubavas a varredura dos porcos e batiam-te por causa disso (aliás, tinhas bastante culpa, porque é proi¬bido roubar), mas derramaste sangue e deves morrer. " Enfim chega o derradeiro dia, Ricardo, enfraquecido, chora e só faz repetir a cada instante: "Eis o mais belo dia de minha vida, porque vou para Deus!" "Sim", exclamam pastores, juizes e senhoras patrocinadoras, "é o mais belo dia de tua vida, porque vais para Deus!" O grupo se dirige para o cadafalso, atrás da carreta ignominiosa que leva Ricardo. Che¬ga-se ao local do suplício. "Morre, irmão", gritam para Ricardo, "morre no Senhor, sua graça te acompanhe. " E, coberto de beijos, o irmão Ri¬cardo sobe ao cadafalso, colocam-no na guilhotina e sua cabeça cai, em nome da graça divina[...]

*texto de Bruno P. Rodriguês/Equipe de Assessoria de Comunicação/Pleyades

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