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Este texto contém opiniões pessoais e todos comentários, opiniões e criticas são bem vindas...

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No Canto I dos “Lusíadas” Camões prepara leitor para a grandiosidade da aventura que será “cantada” e ao mesmo tempo expressa, até com uma certa apreensão, o desafio que será se equiparar aos clássicos na feitura dessa epopéia. Nos dois últimos versos da segunda estrofe ele diz: Cantando espalharei por toda parte, / Se a tanto me ajudar o engenho e arte.” Sendo que entende-se por engenho a parte técnica (versificação, rimas ricas, métrica, etc, no caso) e arte é a parte mais subjetiva que muitos ainda confundem com técnica, mesmo porque quando se fala de rima rica (palavras que rimam e que não são da mesma classe gramatical) o engenho e a arte se fundem. Arte é uma coisa para sentir...

Num mundo que se prima pela técnica, os artistas da música gastam um bocado de tempo falando sobre o produtor, estúdio, equipamento, estrutura hamonica, tapping, slap, pedal point, gravação em mídia X ou mídia Y, (ufa!) quem fala de arte em si é taxado como doido ou afetado (biba, para os íntimos. rs). (“Ah, um som meio mar revolto...”) Somos, infelizmente, treinados para agirmos assim!

Não que a técnica não seja importante para a criação. Um produtor consciente e bom conhecedor da estética que o artista vai gravar, um bom engenheiro de som, um bom estúdio, bons instrumentos e um bom conhecimento teórico e pratico para executar os instrumentos , uma boa captação e edição de vídeo, são, inclusive, essenciais para se construir uma boa obra musical. O problema é quando essas questões são maiores que a música em si.

Vou citar dois exemplos nos quais vê-se que nem sempre é preciso gastar rios de dinheiro para gravar um bom disco: os álbuns “Bleach” da Nirvana e “For Emma, forever ago” do Bom Iver. No primeiro caso a banda gastou cerca de 600 dólares e a produção, segundo a crítica, se encarregou de deixar o som mais “comercial”. Bom, essa questão é discutível, mas temos ai um bom disco no qual a o engenho e a arte parecem terem se dado bem sem um custo exorbitante. Já o segundo álbum é uma jóia. O americano Justin Vernon se “trancou” numa cabana por três meses no inverno de 2005 e gravou sozinho, com um equipamento modesto este álbum que é realmente uma obra prima. Sem contar que por aqui a banda Branco ou Tinto tem lançado excelentes singles captados com um único microfone!

Justin Vernon sabia o que queria e conseguiu. Acho que o mais importante é o artista saber o que quer independente do estilo que vai tocar. Daí o equipamento, produtor, a busca por uma técnica para tocar um instrumento vão na mesma direção.

Bom, citei dois exemplos de discos que acho que o engenho e a arte casou (sei que o exemplo do Nirvana vai dar discussões, rs). E ai galera? Coloquem no comment outros discos!



Bon Iver - "The Wolves (Act I & II)


1 Comentario para Entre o Engenho e a Arte

3 de outubro de 2009 às 10:05

Bacana as comparações feitas no texto, como a relação de "Lusíadas" do Camões, com o ofício do músico, expresso na frase "Arte é uma coisa para sentir..."

Quanto a minha opinião, penso que o que deve ser evitado, não é a técnica em si, mas o seu extremo, no sentido do produto final - a "obra musical" -, só ser técnica e não sentimento.

Por outro lado, só sentimento sem técnica é meio complicado...

Ou seja, "um coração sem cérebro não vai ser entendido, tanto quanto um cérebro sem coração."

A solução é buscar a conciliação desses extremos, e como o Carlos disse, saber o que se quer.


Abraços e parabéns, Carlos B., por suscitar esse debate!

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