Posted by Maximiliano Merege Categories: Marcadores: , , , ,
THE BROGUES


* William Duarte Mota


Podemos constatar ao longo da história do rock que nem sempre a longevidade é sinal da qualidade de uma banda. Há bandas antológicas, como The Searchers e The Ventures que possuem uma longa história a ser contada e há também bandas medíocres que também possuem muito tempo de estrada. Por outro lado, há bandinhas insignificantes que duram pouco tempo e depois mergulham no anonimato, como também há bandas maravilhosas que ficam na cena também por um tempinho mas deixam a sua passagem registrada nas mentes dos verdadeiros amantes do rock´n´roll. A essa última categoria é que pertence a banda americana de hard-garage-R&B dos anos 60 The Brogues.
O começo dos Brogues foi como o da maioria das bandas da época. Eles se reuniram por volta de 1964 em sua cidade-natal, Merced, Califórnia. Eles eram veteranos do cenário pré-Beatles dessa região, onde o que predominava era o R&B e a surf music instrumental. Mas na ocasião em que Eddie, Rick, Bill e Greg resolveram unir suas forças e formar a banda, a Invasão Britânica estava na ordem do dia. E esta foi a razão pela qual batizaram a banda com o nome Brogues: “Música Americana com um Sotaque Britânico”. Eles continuaram tocando R&B, mas ao invés de o fazerem na linha de Fred King e James Brown, o som dos Brogues estava mais para Pretty Things e The Animals.
Dentro de um período de dois meses, eles se tornaram os reis da cena local. Ostentando cabelos longos e com uma delirante presença de palco, traziam multidões de adolescentes barulhentos em cada local em que se apresentavam. Enquanto a maioria das bandas locais ostentava sempre a mesma “boa” aparência (cabelos curtos e ternos da moda) e tocavam uma ou duas canções dos Beatles em suas apresentações, em concordância com a moda corrente, os Brogues se vestiam como punks e tocavam, em seus shows, preciosidades do rhytm´n´blues britânico como “Hubble Bubble Toil & Trouble” e “Mama Keep Your Big Mouth Shut”.
Os Brogues promoviam suas próprias apresentações e tudo estava indo bem. Foi então que resolveram partir até Fresno para gravar duas demos. Essas demos foram enviadas para várias gravadoras e a banda recebia sempre pouca ou nenhuma resposta de volta. Isso, até Clara Thompson, da Hush / Twilight Records ouvi-los e imediatamente instruir o seu filho Garrie a contratar a banda. Em 23 de junho de 1965, os Brogues adentraram a Coast Recorders de San Francisco, e gravaram as duas músicas do seu primeiro compacto simples: “Someday” e “But Now I Find”. O lado A, “Someday”, composta e cantada por Eddie, realmente não soava como a banda ao vivo, mas ainda assim, era um excelente folk-rock. Rick deixou de lado os teclados e tocou baixo nesta gravação, enquanto Bill tocou guitarra acústica de 12 cordas. Já a canção “But Now I Find” mostra forte influência dos britânicos The Kinks e é mais típica do estilo da banda, com uma retumbante introdução do baixo de Bill e a selvageria guitarrística de Eddie. A composição é de Rick e Greg e traz Rick no vocal.



O compacto saiu pela Twilight poucas semanas após a gravação e se tornou imediatamente um sucesso radiofônico na área central da Califórnia, alcançando altos números de execução em estações de Bakersfield e Fresno. Conseqüentemente, a banda viajou muito nessas áreas e se apresentou conjuntamente em shows com Zombies, Jewel Akens, Shirley Ellis e outros notáveis. Depois de uma apresentação em Stockton, onde dividiu palco com a banda The Ratz, o grupo teve uma nova aquisição: o vocalista Gary Duncan, com seu vocal resoluto e sua aparência punk, tudo em perfeita consonância com o estilo dos Brogues. O grupo ainda estava promovendo o single “Someday” quando eles apareceram em um programa de TV de Los Angeles chamado Ninth Street West e o apresentador teve que engolir uma dose de “atitude punk” aplicada por Gary:
APRESENTADOR: E então, Gary, eu ouvi dizer que a banda tem viajado muito por muitos lugares. É verdade?
GARY: Não.
APRESENTADOR: Bem, não foi isso que eu andei ouvindo...
GARY: Bem, você ouviu errado !
Seguindo a insolência de seu vocalista, a banda foi escorraçada para fora do estúdio por produtores gritando: “Vocês nunca trabalharão aqui novamente!” Mas isso não foi problema para os Brogues. Rapidamente eles foram contratados pela gravadora independente Challenge para gravar o segundo compacto da carreira da banda. Depois de duas apresentações em San Francisco no começo de novembro de 1965, os Brogues viajaram para Los Angeles para gravarem o seu segundo e sensacional compacto – mas isso quase não aconteceu. A banda ficou detida em um motel da Sunset Boulevard com uma pilha de acetatos. Aquilo parecia um jogo de dados da gravadora, que os ordenou a encontrar, no meio daqueles discos todos, alguma coisa que eles quisessem gravar. Aquilo parecia que não ia acabar bem, mas a banda viu na canção “ I Ain´t No Miracle Worker”, um despretensioso tema “eu-contra-o-mundo” que se adequava bem a eles. Então, com algumas horas de sobra, eles fizeram um agressivo arranjo com influência de Animals e transformaram a canção em um hino de protesto punk.
Embora nunca tenha se tornado um grande sucesso, a canção “I Ain´t No Miracle Worker”, da dupla de compositoras Nancie Mantz & Annette Tucker (responsáveis também por outro clássico dos anos 60, a canção “I Had Too Much To Dream Last Night”, imortalizada pelos Electric Prunes), é um hino punk dos anos 60. Há várias gravações dessa música, desde Chocolate Watchband até grupos italianos. Mas assim como Jimi Hendrix Experience imortalizou “Hey Joe”, a versão “definitiva” de “I Ain´t No Miracle Worker” pertence aos Brogues.
Os vocais de Gary crepitam lentamente, com uma veemência melancólica digna de um Van Morrison, declinando e crescendo de acordo com a tensão rítmica do arranjo dinâmico. No refrão, Gary entra cantando lentamente “I ain´t no miracle worker, I do the best that I can...” para, logo em seguida, explodir: “I ain´t no miracle worker, oh, Lord, I ain´t no miracle man!”
Após as duas primeiras estrofes, um riff de guitarra surge com uma inacreditavelmente raivosa saraivada de efeito semelhante ao fuzz; um baixo vigoroso empurra a melodia adiante; e, então, após Gary cantar a última estrofe, um riff de teclados deságua em uma derradeira explosão emocional.
O lado B, “Don´t Shoot Me Down” foi gravado no mesmo dia e no mesmo estúdio em poucos minutos. A canção diz algo do companheirismo e concisão do grupopois mostrava que eles podiam surgir com uma gravação matadora em curto período de tempo. A propósito, eles não usaram pedal fuzz nas gravações. Eles usaram os cones esfarrapados do alto-falante do amplificador de Eddie, que produziu um efeito de zunido semelhante ao fuzz em ambas as músicas.
“I Ain´t No Miracle Worker” tinha tudo para se tornar um grande sucesso, mas infelizmente, poucas semanas após a gravação, não haveria mais os Brogues para promovê-la. Eddie e Rick foram os primeiros a debandar. Esforços desesperados foram feitos para preencher as vagas dos dois, mas os outros perceberam que aquela química especial que existia no grupo não poderia ser mais recriada. A magia acontecia apenas com a formação original. Então, eles decidiram dissolver o grupo.
Como em toda boa banda de rock que se preze, a história dos Brogues carrega algumas lendas ( Isso já virou tradição na História do Rock; Vide a lenda da morte de Paul McCartney, que reverbera até hoje...). Há pelo menos duas lendas interessantíssimas que cercam a biografia do grupo e que eu aproveito para esclarecer aqui. Lá vai:
1. Nunca houve nenhum membro dos Brogues chamado “Bill Cole”. A formação da banda sempre foi Eddie Rodrigues na guitarra, Rick Campbell nos teclados, Bill Whittington no baixo e Greg Elmore na bateria, com Gary Duncan juntando-se a eles no vocal no verão de 1965. Gary chamava a si mesmo de “Gary Cole” na ocasião – afinal, seu verdadeiro nome era “Gary Grubb” -, o que talvez possa explicar a aparição desse personagem chamado “Cole”.
2. A banda gravou apenas seis canções durante a sua curta existência: seus dois únicos compactos “Someday” / “But Now I Find” e “I Ain´t No Miracle Worker” / “Don´t Shoot Me Down”, mais uma anterior versão demo para “Someday” e a canção “Journey”. A versão alternativa de “Someday” está no recentemente lançado cd Hush Records Story . “Journey” é um número instrumental que mais se parece com tema de game-show de televisão e não é muito boa. Não há nenhuma canção gravada pela banda intitulada “Early Bird”; Isso é produto de alguém com uma imaginação muito fértil.

Fascinados pelo que estava ocorrendo na cidade, Greg e Gary decidiram continuar lá e posteriormente se envolveram na formação do Quicksilver Messenger Service (cuja obra-prima é o disco Happy Trails, de 1969, um clássico do acid rock e perfeito representante da West Coast music). Nessa mesma época, Bill entrou para a banda de folk-rock The Family Tree. Mas nada seria como antes. É raro uma banda existir por tão pouco tempo e deixar seu nome registrado com tanta honra na História. Esse foi o caso dos Brogues, uma banda que será lembrada sempre por todos os que gostam de verdade do autêntico rock de garagem sessentista.

* William Duarte Mota, escritor monástico, fã de rock psicodélico e é claro, cuiabano "chapa e cruz"

1 Comentario para WILLIDELICO APRESENTA: The Brogues

1 de dezembro de 2011 às 09:35

"Podemos constatar ao longo da história do rock que nem sempre a longevidade é sinal da qualidade de uma banda. Há bandas antológicas, como The Searchers e The Ventures que possuem uma longa história a ser contada e há também bandas medíocres que também possuem muito tempo de estrada. Por outro lado, há bandinhas insignificantes que duram pouco tempo e depois mergulham no anonimato, como também há bandas maravilhosas que ficam na cena também por um tempinho mas deixam a sua passagem registrada nas mentes dos verdadeiros amantes do rock´n´roll."

É a mais pura verdade!

Valeu pela colaboração, William!

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