Posted by Bruno Rodrigues Categories: Marcadores: ,

Semana passada, tive a oportunidade de tomar contato com duas coisas absolutamente antagônicas em termos de qualidade, que me fizeram parar para pensar. Primeiro, uma brilhante matéria feita pela Juliana Destro, do Yahoo! Brasil mostrou vários exemplos de pessoas que deveriam ficar afastadas do meio musical, já que não têm absolutamente nada a oferecer em termos de qualidade. Muito pelo contrário, usando de um oportunismo que seria engraçado caso não fosse repugnante, gente desprovida de talento musical como Roberto Justus, Dado Dolabella, Ângela Bismarchi (esta desprovida de qualquer outro tipo de talento) e a inacreditável armação batizada como Sexy Dolls se meteram a fazer música como se isso fosse algo absolutamente inconseqüente.

Como que debochassem de nossa indignação, como se tivessem a certeza da impunidade ao cometerem um ato de lesa-inteligência, eles demonstraram apenas uma incompetência exemplar ao apresentarem suas... ahn... "canções", retratos fidedignos de uma total inabilidade musical.

Pare um minuto e pense se não é um absurdo que um empresário qualquer invista uma grana alta para promover uma armação cretina, quando há milhares de músicos talentosíssimos espalhados pelo Brasil, cujo trabalho poderia render um retorno comercial bacana caso fossem divulgados de uma maneira perfeitamente profissional - algo que conta muito quando se tem dinheiro envolvido. Mas o que vemos são inúmeros mecenas patetas, mais interessados em faturar uma grana rápida, com a cumplicidade dos programas de TVs e das revistas de fofocas, tratando o público como uma massa de idiotas.

O outro lado da moeda não apareceu escrito em letras garrafais em nenhum lugar, mas teve um impacto imenso em quem o testemunhou. Sábado passado, tive o prazer de assistir a um dos mais sinceros, honestos e desconcertantes documentários a respeito de uma personalidade da música já apresentados até então. Dirigido pelo famoso Julien Temple, "The Future is Unwritten" é a história de Joe Strummer, o falecido líder de uma das bandas mais sensacionais de todos os tempos - The Clash - e um dos ícones do punk rock. Veja, clique aqui.

Em uma viagem cinematográfica de duas horas, vi como um garoto de infância privilegiada, filho de um diplomata indiano, se tornou inicialmente um hippie invasor de "squats" (prédios abandonados que serviam de moradia para comunidades alternativas) de Londres, para depois, em uma mudança radical, se tornar o porta-voz de toda uma geração com o Clash.

Uma das coisas mais interessantes dessa trajetória é ver como a ascensão à fama acabou por fazer com que Strummer enveredasse por um labirinto de sensações antagônicas, a ponto de nos angustiarmos com as suas tentativas de encontrar a si mesmo depois que a banda se esfacelou. E isso tudo sem jamais abrir mão de fazer músicas com qualidade, que tivessem letras que fizessem com que as pessoas parassem para pensar. Em um dos depoimentos mais emocionantes, Bono diz que "os discos do The Clash eram como um mapa mundi, em que todos os acontecimentos eram ali relatados de maneira contundente, principalmente para gente ignorante como nós éramos na época".

Strummer era um filósofo e um repórter das agruras do mundo, ao mesmo tempo em que era dono de um temperamento que o levava a magoar seus amigos mais próximos. Por vezes maquiavélico em sua busca pela fama, ele contrapunha tudo isso a um engajamento musical que chega a soar quase messiânico nos dias de hoje, mas que fazia com que cada um de nós pensasse a respeito de nossa contribuição para um mundo culturalmente mais desenvolvido.

Portanto, na hora de ouvir porcarias musicais como àquelas cometidas por gente que nada tem a ver com música, reflita e veja se, lá no fundo, não é você mesmo que acaba alimentando esse tipo de mercado de último escalão, sem nenhuma paciência para criticar tais atitudes, limitando-se apenas a resmungar, xingar, fingir indignação e sem cobrar mais seriedade. Não importa se a maioria das pessoas passa 24 horas por dia empurrando para debaixo do tapete as inúmeras porcarias que ouve. Não tenha medo em expor suas opiniões.
(Regis Tadeu é editor das revistas Cover Guitarra, Cover Baixo, Batera, Teclado & Piano e Studio. Diretor de redação da Editora HMP, crítico musical do Programa Raul Gil e apresenta/produz na Rádio USP (93,7) o programa Rock Brazuca. )

2 Comentario para "Música não é para oportunistas incompetentes" por Regis Tadeu.

6 de junho de 2009 às 00:08

Esse Regis Tadeu, apesar de ser um imbecil, boçal e superficial, às vezes consegue mandar coisas boas!
Quem dera todo mundo tivesse o privilégio de curtir Clash em vez de sandices nacionais dos anos 80 e 90....
Post oportuno!

24 de abril de 2021 às 14:06

Dr. Régis, meus parabéns pelo número de qualidades que o senhor apresenta em seu trabalho e por não ter vergonha de postar seus comentários.

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