Posted by Maximiliano Merege Categories: Marcadores: , , ,

A história começa nos idos de 1965, no bairro da Pompéia, em São Paulo, quando os irmãos Dias Baptista - Cláudio e Arnaldo - e os amigos Raphael Vilardi e Roberto Loyola se juntaram com as amigas Rita Lee Jones e Suely Chagas para um barulho, pois ao mesmo tempo em que os meninos tocavam freakbeat tupiniquim, sob o nome de The Wooden Faces, as meninas tinham um grupo vocal chamado The Teenage Singers.
Somaram-se então à trupe, o guitarrista Sérgio Dias - irmão caçula dos Dias Baptista - que veio para o lugar de Cláudio, e o baterista Pastura. Nascia assim a banda O'Seis.
Em 1966, lançaram um compacto que deu o que falar, pois além de explorarem sonoridades avançadas, suas letras também vinham recheadas de humor negro, coisa nada comum no mundo da jovem guarda. Vendeu pouco, mas por outro lado conquistou a simpatia do cantor e apresentador Ronnie Von, que os convidara para tocar em seu programa na TV Record. Como viviam uma fase de muitas mudanças, por sugestão do então novo grande amigo, mudaram o seu nome para Mutantes.
Em seguida, acompanharam Ronnie Von em um disco arranjado pelo Maestro Rogério Duprat. Este disco contém o clássico tropicalista “Pra Chatear" e que conseguiu renir os Mutantes, Ronnie Von, Caetano Velloso e o Maestro Duprat em uma mesma faixa.
Ainda em 1967, acompanharam Gilberto Gil em “Domingo No Parque”. Nesse embalo, sob os cuidados do maestro, gravaram também cinco músicas com a "Banda Tropicalista de Rogério Duprat" e acompanharam Caetano Velloso em “É Proibido Proibir”.


Um ano que não acabou...


Finalmente em 1968 lançararam seu primeiro lp: "Os Mutantes"; e também participaram do antológico álbum "Tropicália", com o Maestro Duprat, Caetano Velloso, Gilberto Gil, Nara Leão e Tom Zé.
Nesses tempos, as vaias eram constantes, já que até então a mpb não tolerava o uso de guitarras elétricas e nem extravagâncias que extrapolassem o seu rígido padrão “banquinho e violão”. Os Mutantes - bem como o Chacrinha - viraram a coisa do avesso e fundiram o Brasil com o Mundo, quebrando todas as fronteiras artísticas e estéticas possíveis. Seus álbuns ganharam lugar de destaque entre os discos mais importantes dos últimos cinquenta anos, e até hoje figuram entre os nomes mais influentes da cultura pop universal.
Posteriormente, entre 1969 e 1972, sob sua já consolidada formação clássica - Arnaldo, Sérgio, Rita, Liminha e Dinho - apresentaram oficialmente outros quatro discos como “Os Mutantes” e mais dois creditados a “Rita Lee & Os Mutantes”.




Do Brasil para o mundo



Em 1970, os Mutantes viajaram à Europa para tocar em um importante evento na França. Conseguiram um ótimo esquema para gravação e lançamento de material por aqueles lados, mas graças à burocracia da gravadora, o tal disco que por lá gravaram ficou engavetado por trinta anos e só saiu em 2000 sob o nome de "Technicolor", cuja arte de capa fora assinada por Sean Lennon, filho de John Lennon e discipulo de Arnaldo Baptista.


O primeiro final


Em 1972, o casamento de Rita e Arnaldo estava com seus dias contados. A banda enfrentava problemas com a gravadora: restrições contratuais, gravações "sem apelo comercial" etc. Rita Lee já nem estava mais com eles. Um dos casos foi a "geladeira" de vinte anos para o disco "o A e o Z".
Em meio a esse estresse, Arnaldo troca a banda pela carreira-solo e em 74 lança o disco “Lóki” que, bem ou mal, teve a participação dos Mutantes e arranjos do maestro Duprat, mas revelou também a face melancólica de um artísta que até há pouco era lembrado por sua irreverência. Fora isso, formou o Patrulha do Espaço, passou um tempo no hospício, rachou a cuca, virou pintor e escritor, e voltou a tocar.
Quanto aos demais Mutantes, só restara Sérgio Dias que tocou o nome da banda até 1978 e gravou três discos de rock progressivo. Rita Lee fundou o Tutti Frutti e teve uma bem sucedida carreira-solo. Liminha se tornou um dos maiores produtores do Brasil. Dinho Leme largou a música para virar empresário. E o Maestro Duprat, vítima do mal de alzheimer, faleceu em 2006.



A volta...

Arnaldo Baptista, dinho Leme (fundo) e Sérgio Dias

Em 2006, após 3 décadas longe dos Mutantes, Arnaldo Baptista, Sérgio Dias e Dinho Leme voltam a tocar juntos! Todavia, por conflitos de agenda, tanto Rita Lee quanto Liminha tiveram que declinar do convite. A cantora Zelia Duncan foi a escolhida para os vocais e a um sexteto de apoio coube a missão de preencher a lacuna de Liminha, possibilitando ao vivo coisas que só existiam em estúdio.

Esgotaram a lotação de um grande teatro de Londres e de lá paratiram para uma tour pelos EUA. Não demorou e excursionaram pelas principais capitais do Brasil (pena que não vieram a Cuiabá!).
Missão cumprida, tanto Arnaldo Baptista quanto Zélia Duncan deixaram a banda para se dedicarem a projetos pessoais. Desde então, Sérgio Dias e Dinho Leme têm dirigido a trupe, sem necessariamente usarem o nome Mutantes, mas sempre buscando preservar os arranjos e a magia originais.




O filme


Em abril deste ano foi lancado Lóki, documentário do cineasta Paulo Henrique Fontenelle sobre a vida de Arnaldo Baptista e a trajetória dos Mutantes, com direito a imagens raras, depoimentos de vivos e finados e tudo o que é de se esperar de algo que levou anos para ser feito.
O filme tem sido muito bem falado, mas infelizmente está fora do circuito comercial e sem previsão para sair em dvd. Assim, só resta a nós - meio desligados - esperar a chegada do filme e curtir o que ainda temos à mão...



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Max Merege é um pesquisador musical de Cuiabá que AMA música brasileira, muito mais que muita gente por aí!


Artigo originalmente publicado
dia 07 de Dezembro de 2008
Coluna ENROLANDO O ROCK / Caderno FOLHA 3
Jornal FOLHA DO ESTADO
Cuiabá - Mato Grosso

4 Comentario para Simplesmente MUTANTES

Anônimo
29 de dezembro de 2008 às 09:10

Muito bom Max! Textos como os teus são o que precisamos para enriquecermos nossos conhecimentos e buscarmos "novas aventuras musicais". Já pensou em reunir todos esses textos, tanto os que tu postou aqui no blog oct, como os do "Caminho das indias", e transformá-los em de repente, uma revista, cujo nome poderia ser "Enrolando o rock"? Sim, aí já lançando uma idéia, quel tal dividí-la em Volumes? Vol.1, Vol.2, etc, classificados ou por gênero (punk, hardrock, rock nacional) ou por décadas. Pela qualidade dos textos, com certeza teria uma boa circulação. Se não uma revista impressa, uma revista eletrônica mesmo. Enfim, dá para pensar muitas coisas.

No mais, parabéns novamente rapaz!

29 de dezembro de 2008 às 20:54

Excelente texto Max!!!!Parabéns.. As idéias que o Bruno deu são algo realmente a ser "visto" como um projeto concreto hein!!!

30 de dezembro de 2008 às 09:37

Valeu aí, Bruno e Ronny!!!
Eu já tenho um site onde posto as colunas ENROLANDO O ROCK:
http://colunasdomax.blogspot.com

Prosit!

Anônimo
30 de dezembro de 2008 às 11:07

opa, bacana!

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