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("O cortiço" de Aluísio Azevedo)


O que leva uma pessoa a trair o companheiro(a)?

Ainda mais quando essa pessoa o ajudou a cresce na vida, deu-lhe suporte para tal e depois foi recompensada pela escravidão e traição. Foi o que aconteceu com Bertoleza (a traída) e João Romão (o traidor). João Romão era ganancioso e só pensava em como ganha mais dinheiro, nem que por isso tivesse que passa por cima de pessoas, ou então, colocá-las em situação desumanas como acontecia no seu cortiço.

Aluísio Azevedo além de mostrar o caráter de um ser humano ganancioso que existiu naquela época - existe hoje e continuará existindo por todo o sempre - também narrou o aparecimento de favelas no Brasil. A historia do cortiço pode ser muito bem retratada em uma favela qualquer do Brasil, com os mesmos problemas e os mesmos “tipos” de pessoas.

Recomendo a leitura desse livro, pois não é nada mais que o estudo da psicologia humana e Aluísio Azevedo é mestre nisso.


“- Onde está ela?

- Deve estar lá dentro. Tenha a bondade de entrar...

O sujeito fez sinal aos dois urbanos, que o acompanharam logo, e encaminharam-se todos para o interior da casa. Botelho, à frente deles, ensinava-lhes o caminho. João Romão ia atrás, pálido, com as mãos cruzadas nas costas.

Atravessaram o armazém, depois um pequeno corredor que dava para um pátio calçado, chegaram finalmente à cozinha. Bertoleza, que havia já feito subir o jantar dos caixeiros, estava de cócoras no chão, escamando peixe, para a ceia do seu homem, quando viu parar defronte dela aquele grupo sinistro.

Reconheceu logo o filho mais velho do seu primitivo senhor, e um calafrio percorreu-lhe o corpo. Num relance de grande perigo compreendeu a situação; adivinhou tudo com a lucidez de quem se vê perdido para sempre: adivinhou que tinha sido enganada; que a sua carta de alforria era uma mentira, e que o seu amante, não tendo coragem para matá-la, restituía-a ao cativeiro.

Seu primeiro impulso foi de fugir. Mal, porém, circunvagou os olhos em torno de si, procurando escapula, o senhor adiantou-se dela e segurou-lhe o ombro.

- É esta! Disse aos soldados que, com um gesto, intimaram a desgraçada a segui-los. - Prendam-na! É escrava minha!

A negra, imóvel, cercada de escamas e tripas de peixe, com uma das mãos espalmada no chão e com a outra segurando a faca de cozinha, olhou aterrada para eles, sem pestanejar.

Os policiais, vendo que ela se não despachava, desembainharam os sabres. Bertoleza então, erguendo-se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto e, antes que alguém conseguisse alcançá-la, já de um só golpe certeiro e fundo rasgara o ventre de lado a lado.

E depois embarcou para frente, rugindo e esfocinhando moribunda numa lameira de sangue.

João Romão fugira até ao canto mais escuro do armazém, tapando o rosto com as mãos.

Nesse momento parava à porta da rua uma carruagem. Era uma comissão de abolicionistas que vinha de casaca, trazer-lhe respeitosamente o diploma de sócio benemérito.

Ele mandou que os conduzissem para a sala de visitas.”

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